segunda-feira, 21 de março de 2011

Aprendiz de cozinheiro

   Muitas pessoas pensam que os chefes de cozinha vivem glamourosamente, bebendo espumante e degustando iguarias raras e que ganham rios de dinheiro. É verdade que a profissão tem tido ascensão, existem cozinheiros ricos e célebres, mas o sucesso vem de muita pesquisa, de trabalho árduo, onde o reconhecimento é consequência e rios de dinheiro ganham  pouquíssimos, como acontece com os jogadores de futebol.
 Em pensar que até bem pouco tempo, um cozinheiro na família era considerado vergonhoso e que a profissão era considerada subemprego e até marginalizada no Brasil e hoje é sinônimo de status..
 Quando fui aluna do curso de gastronomia observava meninas e meninos vaidosos, vestindo suas dolmãs impecavelmente brancas e exibindo nos corredores suas facas importadas. Nas aulas práticas o que eu mais presenciava era medo queimadura, de se ferir, de se sujar e a maioria tinha nojo de ingredientes como moluscos, por exemplo. Medo e nojo não cabem nessa profissão, se quiser insistir procure um terapeuta, mas aconselho a mudar de área. A profissão pede amor aos ingredientes e coragem pra assumir os riscos, inclusive o risco de errar quando se está aprendendo e muitos não lidam bem com o fracasso, muito menos com críticas.
 A  universidade não forma profissionais, ela funciona como uma aliada no processo longo de aprendizado, uma facilitadora na pesquisa. Uma cozinha real funciona de forma totalmente diferente de um laboratório acadêmico.
 Esses alunos são facilmente reconhecidos, quando entram no curso colocam em seu perfil do orkut ou facebook: "Chef fulano de tal", alguns mais cautelosos, mas não muito diferentes, esperam os dois anos de curso e quando se formam se denominam. Outro dia conto porque sou cozinheira e gosto de ser chamada assim...
  O bom cozinheiro se forma "cortando cebola" para outro mais experiente, em um exercício diário de humildade, onde é testado e cobrado. Esse aprendiz deve ser um bom observador e sempre respeitar os que tem mais tempo de profissão.
 Muitos destes deslumbrados não sabem que nós cozinheiros trabalhamos no nosso aniversário, no réveillon, no natal, no carnaval, quando o filho está doente ... Se algum aspirante a cozinheiro pensa em ter uma família dentro das normas sociais estabelecidas com papai, mamãe e filhinho na hora do jantar e uma vida regrada, pode esquecer a profissão, pois cozinha é sacerdócio, é renúncia.
Costumo dizer que cozinha é chamado e quem atende ao chamado e se entrega a ele de corpo e alma nunca vai se arrepender, pois a profissão é cheia de compensações, a cozinha é o templo do cozinheiro e o conhecimento desta proporciona poderes mágicos, transformadores.
Geralmente depois de formados, quando conseguem entrar no mercado de trabalho eles (os deslumbrados), caem do cavalo branco e a grande maioria desiste da profissão. O jovem aprendiz que resolver seguir, tem que ter sempre a consciência que  99% é ralação e 1% é glamour. É realmente uma profissão para poucos.
 

2 comentários:

  1. Ow Gabi, que texto lindo!
    Não há nada melhor que fazer o que ama, não é?
    A gente demora a se descobrir, mas quando se descobre... Nossa! E vale salientar, nada é fácil, nem a descoberta, nem o deleite de tal, tudo exige dedicação e coragem, ah, sobretudo AMOR!
    Beijos e sorte com as panelas, minha flor de canela! :) =*

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