segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Poesia comestível

A gastronomia passa por modificações a cada década, segue tendências artísticas e dita comportamentos. Como a moda, ela também pode ser vista como algo efêmero e fútil. Muitos ainda possuem o pensamento de que comida só serve pra saciar a fome e no máximo sentem o prazer primitivo de devorar uma picanha ferozmente. Outros mais "entendidos" compreendem o labor, possuem paladar mais apurado, mas no íntimo não enxergam como arte.
O profissional de cozinha antes de qualquer coisa é um artesão, e como um alquimista busca harmonizar sabores, cores e formas na composição de uma criação. Atua em sua cozinha como um maestro, coordena sua brigada como uma orquestra, onde não é permitido desafinar.
Sou uma apaixonada pela cozinha e reconheço nela valores artísticos como encontro na literatura, no cinema, nas artes plásticas e na música, mas percebo que poucas pessoas enxergam a arte que escolhi pra chamar de minha da mesma forma que eu.
Eu me surpreendi lendo o prefácio de Açúcar de Gilberto Freyre, que ganhei de presente de um amigo. Bom, em 1939 Gilberto Freyre já via a cozinha com o mesmo olhar que eu, considerava a cozinha "Poesia Óptica", pois enxergava nas formas dos doces, bolos e tortas sentimentalismo e romantismo. Em alguns símbolos ele percebeu inclusive intenções mágicas. Ele conta que através das receitas, uma arte resiste a seu modo ao tempo, repetindo-se ou recriando-se, com a constância das suas excelências e até as sutilezas de sabor; afirmando-se por essa repetição ou por essa recriação. Numa velha receita de bolo existe uma vida, uma constância, uma capacidade de vir vencendo o tempo.
Existe poesia contida nos cadernos de receitas de muitos cozinheiros, poesia que eleva o espírito quando degustada. Poderia chamar de poesia comestível?
Eu mesma gosto de colocar em minhas receitas: Tempere com sal, pimenta e um beijo... Aprendi com uma professora que tive, eu gosto de copiar o que considero bonito.
Na música brasileira compositores como Chico Buarque, Dorival Caymme, Ary Barroso, Adoniran Barbosa, Paulinho da Viola, Clara Nunes e muitos outros já utilizaram receitas como letras de músicas ou citaram preparações em suas composições.
Açúcar ou sal, quente ou frio? Vai depender do que pede a receita, do ritmo que estiver tocando e claro, do amor disposto.

2 comentários:

  1. A POETA DAS PANELAS VOLTOU... LINDO GABI SALES!
    BJS
    ANTONIO DE MELLO

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  2. surreal... imprecionante como as coisas se tranforma dependendo do olho as que observa... gosto desses olhares que vai alem da imagem como flaeu surreal

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