terça-feira, 27 de dezembro de 2011

OS HOMENS LIVRES


      

É isso que tentam fazer conosco, castrar nossos desejos. Assim reprimidos, nos tornam fracos, dependentes e, sobretudo carentes de amor, impotentes, na expectativa do outro para nos salvar das faltas profundas, do imenso vazio que corroi, que persegue. De tanto renunciar fomos alimentando ressentimentos, raiva e, por fim, tornamo-nos anestesiados. Passamos a viver das emoções novelescas, passivos frente à ação televisiva. Assim a vida passou a ser assistida e não experimentada e vivida. Foi isso que tentaram fazer conosco: matar a vida! Mas...os rebeldes não se curvaram e não se submeteram porque sempre tiveram a certeza do desejo como potência natural, não reprimiam os movimentos, o corpo, as atitudes...Esses poucos corajosos, livres das repressões e censuras, foram bravamente vencendo fronteiras como heróis, muitas vezes crucificados ou queimados em fogueiras. Assim, esses homens livres amam com intensidade, sorri com vontade, não se incomodam se em um momento de emoção, uma lágrima rola no rosto, porque é livre e tudo flui, porque não renunciam ao desejo, são criativos. O sexo se transforma numa fusão sem limites; não trepam, mas transam a parceria plena de sensações, imaginativos, potentes e além de tudo, carinhosos, amorosos, sensuais, sexuais e espirituais. Que haja agora em nós, a determinação, a decisão de não mais renunciar o desejo, porém desejar cada vez mais, DESEJAR!!!

Texto escrito a aproximadamente 14 anos, recuperado por uma amiga. Não lembrava dele, mas se assinei, devo ter escrito.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Poesia comestível

A gastronomia passa por modificações a cada década, segue tendências artísticas e dita comportamentos. Como a moda, ela também pode ser vista como algo efêmero e fútil. Muitos ainda possuem o pensamento de que comida só serve pra saciar a fome e no máximo sentem o prazer primitivo de devorar uma picanha ferozmente. Outros mais "entendidos" compreendem o labor, possuem paladar mais apurado, mas no íntimo não enxergam como arte.
O profissional de cozinha antes de qualquer coisa é um artesão, e como um alquimista busca harmonizar sabores, cores e formas na composição de uma criação. Atua em sua cozinha como um maestro, coordena sua brigada como uma orquestra, onde não é permitido desafinar.
Sou uma apaixonada pela cozinha e reconheço nela valores artísticos como encontro na literatura, no cinema, nas artes plásticas e na música, mas percebo que poucas pessoas enxergam a arte que escolhi pra chamar de minha da mesma forma que eu.
Eu me surpreendi lendo o prefácio de Açúcar de Gilberto Freyre, que ganhei de presente de um amigo. Bom, em 1939 Gilberto Freyre já via a cozinha com o mesmo olhar que eu, considerava a cozinha "Poesia Óptica", pois enxergava nas formas dos doces, bolos e tortas sentimentalismo e romantismo. Em alguns símbolos ele percebeu inclusive intenções mágicas. Ele conta que através das receitas, uma arte resiste a seu modo ao tempo, repetindo-se ou recriando-se, com a constância das suas excelências e até as sutilezas de sabor; afirmando-se por essa repetição ou por essa recriação. Numa velha receita de bolo existe uma vida, uma constância, uma capacidade de vir vencendo o tempo.
Existe poesia contida nos cadernos de receitas de muitos cozinheiros, poesia que eleva o espírito quando degustada. Poderia chamar de poesia comestível?
Eu mesma gosto de colocar em minhas receitas: Tempere com sal, pimenta e um beijo... Aprendi com uma professora que tive, eu gosto de copiar o que considero bonito.
Na música brasileira compositores como Chico Buarque, Dorival Caymme, Ary Barroso, Adoniran Barbosa, Paulinho da Viola, Clara Nunes e muitos outros já utilizaram receitas como letras de músicas ou citaram preparações em suas composições.
Açúcar ou sal, quente ou frio? Vai depender do que pede a receita, do ritmo que estiver tocando e claro, do amor disposto.